Vê Legentil

quarta-feira, 28 de março de 2018

Café com Leite

Lembra da infância, quando crianças se juntavam para brincar de “pic cola”, “pic esconde”, queimado, amarelinha e tantas outras brincadeiras?! E quando os menores também queriam brincar? E aí dos maiores se não deixassem! A mãe acabava com a brincadeira e colocava todos para casa. Então, para que farra não tivesse fim, os menores entravam no jogo, mas como o nome de “café com leite”. Se lembram disso? Aquela criança não era incluída para fins de resultados nos jogos.  Aquelas crianças pela pouca idade não eram capazes de entender as regras do jogo ou ainda de se envolver da mesma forma que as demais crianças.
Claro que isso tem um sentido bem legal na infância, significa que os primeiros passos para inclusão estão acontecendo, o pequeno começa a ter acesso às regras do jogo, como elas funcionam e vai se desenvolvendo assim. E com o passar do tempo por estar tão envolvida ela deixa de ser “café com leite” e passa a integrar de verdade aquela equipe, aquele grupo. Mas o problema é quando se cresce e se leva para a vida adulta o “café com leite”, para lidar com o diferente, com o desconhecido.
Trazendo esse exemplo para o mundo da pessoa com deficiência é comum que algumas pessoas que não tenham deficiência, queiram “proteger” as PCDs das desilusões, dos problemas, dos preconceitos, da competitividade, da maldade alheia, e passem a tratá-la como se ela fosse uma criança menorzinha que lá na infância queria participar de tudo, mas tinha suas ressalvas. Mas aqui, nesta fase da vida, já na cabe isso. As vezes a PCD é tratada como “café com leite” dentro da própria família. E na maioria das vezes isso se dá pelo medo que a família tem da pessoa ser menosprezada, desvalorizada. Uma preocupação justa, mas isto não pode se tornar um impeditivo para que a PCD se envolva em situações estressantes, de conflitos, de busca por seu espaço e enfrentamentos, porque a sociedade não nos trate assim. Na verdade é em convívio com a sociedade que nos fortalecemos, que tiramos forças nem sabemos de onde para enfrentarmos o descaso, as dúvidas quanto a nossa capacidade.
Ser Café com leite é algo indefinido, não é mais só café, nem tão pouco leite apenas. É uma mistura homogênea, o gosto se mistura. E se aplicarmos isso à vida, se não buscarmos nossa identidade, nosso valor, seremos tratados eternamente como café com leite, indiferente se estamos no time A ou no time B. Não conta mesmo!
Ser café com leite é não deixar legado, é não escrever sua própria história, é permitir que outros decidam o valor que você tem.
Café com leite é bom nas brincadeiras da infância. É bom no café da manhã, no lanche da tarde. Fora Isso, não tem graça, não tem sabor, não tem identidade definida.
Se é para ser algo, escolha ser café, de preferência forte, onde seu sabor impacte o paladar das pessoas, ou seja leite integral, desnatado, não sei. Mas escolha quem você quer ser. Seja quem você quer ser.
Quero fechar este texto com uma passagem da Bíblia que gosto muito, que nos faz perceber que Deus não nos trata como “Café com Leite”. Que para ele temos valor exatamente por sermos quem somos!


Bjs!!!!

 E até a próxima postagem! Não deixem de comentar os artigos e compartilhar em suas redes sociais!













quarta-feira, 7 de março de 2018

Barreira Atitudinal - O que mais ela envolve?!


Inclusão o que é?

Como é do conhecimento de vocês trabalho com inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho faz alguns anos. E mesmo com alguma experiência no meio corporativo sobre este tema, ainda me causa algum espanto o fato de que, falar em inclusão remete ao outro pensar em barreiras arquitetônicas como questão prioritária, quando na verdade isso deveria ser secundário, ou consequência da quebra do pior tipo de barreira a ser eliminada, a barreira atitudinal. Esta sim, constitui-se um dos grandes impeditivos para que a inclusão da PcD aconteça no mercado de trabalho.
Posso elencar aqui alguns pontos da barreira atitudinal que causa impacto na inclusão da pessoa com deficiência:
1-   A infantilização da pessoa com deficiência – Ainda é comum pessoas sem deficiência dar um tratamento diferenciado a PcD, com excessos de “meiguices”, superproteção tentando sempre “ajudar” aquela pessoa, pois ela não tem como fazer determinada “coisa” sozinha, afinal ela é como uma criança, precisa sim de ajuda! (Eis o que pensam).E consequente a isso, dirigem-se a PcD com linguagens infantis, alteração de voz, concluindo que, se agir desta forma a pessoa com deficiência entenderá melhor o que está sendo dito.
2-   A crença que pessoas com deficiência não podem exercer atividades laborais mais complexas – Foi interessante notar fazendo uma busca em sites de empregos que ofertam vagas para PcD, que a maioria delas está direcionada ao setor operacional, são vagas para recepção, Op.de caixa, repositor de supermercado, auxiliar de serviços gerais, balconista, ajudante de pedreiro, servente etc. A cada 20 vagas ofertadas, 1(uma) contêm nas descrições atividades mais elaboradas.  Ainda existe uma crença que pessoas com deficiência, independente do tipo de deficiência, são incapazes, ou limitados para exercer atividades que requeiram um raciocínio lógico, interpretações de textos, cálculos, relatórios etc. Saliento, que o problema não está nessas vagas, mas a quem ela é ofertada.
3-   Alguns tipos de deficiência são excluídos do mercado de trabalho – Autistas, pessoas com deficiência intelectual costumam ser as mais excluídas do mercado de trabalho. De acordo com o Censo 2010, 2,6 milhões de pessoas no Brasil possuem deficiência intelectual, apesar deste número elevado, apenas 2,41% são PcD intelectuais dos 400 mil PcD’s que trabalham no mercado de trabalho formal. Neste ponto o problema se concentra na falta de informação, no preconceito, na falta de preparo dos recrutadores em abordar este segmento de PcD, na resistência das áreas em receber pessoas com deficiência intelectual, julgando como incapacitante a deficiência da pessoa.

Poderia ficar aqui por horas, falando sobre barreiras atitudinais que tão perto rodeia as pessoas com deficiência. O que quero ressaltar, entretanto, é que a barreira arquitetônica pode ser mais fácil de se solucionar, pois quebra-se e se constrói algo acessível, mas a barreira atitudinal, envolve disponibilidade, mudança de atitude, empatia, dar crédito ao outro, respeito ao próximo. A força da letra da lei de Cotas ajuda, mas a inclusão ainda está distante do ideal.
É preciso que haja investimento em pessoas, nos profissionais de RH que recrutam e selecionam candidatos PcDs, nos gestores que apresentam forte resistência em ter em suas equipes alguém com deficiência, baseado muitas vezes em “achismos” – eu acho que ele não consegue, eu acho que terei problemas, eu acho que ele não vai acompanhar o ritmo etc.
De acordo com dados de pesquisa realizada pela Catho, 93% dos gestores das empresas necessitam se informar melhor para gerenciar e entrevistar uma pessoa com deficiência (PCD) e que 65% desses gestores possuem grande resistência em entrevistar ou contratar profissionais com esse perfil.
Gestores apresentam resistência em ter PcDs em suas equipes, mais uma vez, por falta de conhecimento, de convívio com a pessoa com deficiência.
O que tenho percebido ao longo dos anos é que, os problemas que os líderes apontam para rejeitar uma PcD em sua equipe, são os mesmos problemas que enfrentam com seus funcionários não PcDs. Porém, é como se, somente a pessoa com deficiência apresentasse tais falhas.
É preciso investir em educação corporativa no tange a sensibilização para que a inclusão da pessoa com deficiência aconteça no mercado de trabalho.
A Lei de Cotas é vista como objetivo, quando na verdade ela deveria ser uma consequência.

Censo 2010.

Bjs...e até a próxima postagem!