Semana passada tive o privilégio de participar de mais uma
edição da Reatech, uma Feira Internacional que acontece a cada dois anos em São Paulo, onde são apresentadas novas
tecnologias para pessoas com deficiência, visando melhor qualidade de vida para
este público.
Digo sempre que, com todos os problemas que enfrento por causa
do preconceito, falta de acessibilidade, e até mesmo falta de educação por
parte de alguns, por conta da minha deficiência; sou uma pessoa privilegiada,
pois trabalho no que gosto, e quando isso acontece, somos presenteados com
algumas ações que muito nos acrescenta à vida, e participar da Reatech, é uma delas, pelo menos para mim, que não apenas trabalho com e pela inclusão, mas
vivo isso na pele, todos os dias.
Participar da Reatech deveria fazer parte do “currículo” de vida
de todas as pessoas, independente se PcD ou não. Pois neste evento é possível
perceber a perplexidade de alguns ao presenciarem o que uma pessoa com
deficiência pode fazer se tiver, se derem, condições para isso. Atestar que
surdos, cedos, paraplégicos, tetraplégicos, amputados são pessoas que realizam
suas atividades de acordo com suas condições, que não há incapacitados quando
os recursos estão a mão.
Me emociono, me encanto com tantas novidades. As cadeiras de
rodas, lindas com suas cores e modelos diversificados, onde se é capaz de olhar
tal equipamento e entender que ele faz parte do corpo de uma pessoa e, entender
isso não mais com um olhar de piedade, mas de liberdade. Isso para mim é
fantástico.
Poder admirar a alegria de uma criança cadeirante por poder
levar em todos os lugares seu super herói favorito estampado na roda de sua
cadeira, de ver seus amiguinhos não PcD's querendo uma igualzinha, e perguntar aos pais "por que eu não tenho uma dessas?". É perceber a liberdade de correr com suas pernas “circulares”
avançando para onde lhe dá vontade.
Órteses e próteses elaboradas com materiais mais leves e
confortáveis, diminuindo assim as dores e cansaço e algumas feridas que o uso obrigatório destes,
diariamente nos ocasiona.
Tetraplégicos em suas cadeiras que lhes garantem autonomia de
idas e vindas sem precisar de alguém o empurrando sempre.
Cadeiras que se elevam, deixando cadeirantes praticamente em pé,
podendo assim alcançar objetos que estejam mais altos, dentre outras possibilidades. Cadeiras motorizadas que permite ao cadeirante sentir o vento tocar seu rosto livremente, enquanto se movimenta. Enfim, é um mundo de
novas possibilidades para aqueles que são coibidos pela falta de acessibilidade
que domina a sociedade em que vivemos, a viver uma vida mais plena.
Mas tantas
maravilhas esbarra em uma realidade cruel, a falta de recursos financeiros para
aquisição de tecnologias tão “TOP” e necessárias. Os preços não são acessíveis
a todos. Cadeiras de rodas de qualidade não são baratas, órteses e próteses
também não.
E infelizmente
aqueles que mais precisam dessas novas tecnologias, em grande número, são aqueles
que recebem o BPC – Benefício de Prestação Continuada, do governo federal, que
equivale a um salário mínimo, e que alguns complementam a renda familiar com
essa quantia, ou ainda, sustentam a família com este recurso. Como comprar uma
cadeira de rodas de qualidade que custa em média 5 mil reais? Você pode dizer,
mas, existe o financiamento do Banco do Brasil para compra de equipamentos para
PcD com juros mais baixos. Ok, mas ainda assim, é uma realidade bem distante do
que realmente está ao alcance de quem precisa.
Um outro lado, que
esta feira nos mostra é que os grandes empresários, percebem que a PcD é consumidora
também, e que mais do que comprar por comprar. Compramos porque TEMOS que comprar. Comprar determinado acessório ou equipamento é questão de necessidade para nós. Investir neste público com diversidade de produtos,
equipamentos atrativos visualmente, esteticamente confortáveis e bonitos é algo fantástico para nós. E
isso é muito importante, pois, como já falei em outras postagens, esses
equipamentos são partes integrantes de nossos corpos. E assim, como vocês
gostam de se vestir e sentir-se bonitos, elegantes, nós também, queremos que
nossas órteses sejam confortáveis e lindas ao mesmo tempo, pois isto nos faz
bem, ajuda a elevar nossa auto estima, por vezes tão massacrada pelas
impossibilidades impostas no dia a dia.
Por muitos anos fiz uso de um aparelho ortopédico pesado, bruto,
com botas que mais se assemalhavam a um cuturno, me sentia as vezes “descombinante”
quando usava vestidos de festas e aquela bota horroroza na maioria das vezes
marrom, sim, pois não tinha muitas variedades nas cores, você podia optar por
preta, branca ou marrom. Quando fiz 18 anos
fiquei muito feliz em saber que poderia usar tênis e não mais aquela
bota feiaaaa e caríssima...rsrsrsrs!!! Já
era um avanço! E mais tarde fui acrescentando sapatos fechados, e até
mesmo saltos. Um sonho, uma maravilha!
Ano passado troquei o velho aparelho por um modelo mais recente,
com menos correias de couro “me amarrando” me ferindo pelo uso diário e
contínuo. Esteticamente agressivo de se olhar.
Hoje gosto muitooooo do que uso, pois pude escolher a “estampa”,
meu aparelho ortopédico, é a minha perna tatuada, leve,confortável,
bonita...sim..para mim ela é linda! Não foi barato, parcelei em algumas
prestações. Mas, ainda assim, agradeço a Deus por ter condições de comprar o
que para mim representa autonomia, liberdade. Agradeço por ter acesso a essa
tecnologia mais recente, que me proporciona qualidade de vida.
Minha torcida é que outras PcD’s entrem para o mercado de trabalho, que sejam reconhecidos, que recebam salários justos para que tenham acesso a recursos
financeiros para adquirirem equipamentos, acessórios que melhorem suas vidas, e que tragam sempre em seus rostos sorrisos pelas conquistas e gratidão pela vida tão linda que Deus a cada um concede.
Bjs....
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Muito interessante. Conforme eu ia lendo o seu post eu me perguntava sobre os custos desses tão benvindos avanços. Pergunto então: esses produtos são taxados ou isentos de impostos?
ResponderExcluirMuito interessante. Conforme eu ia lendo o seu post eu me perguntava sobre os custos desses tão benvindos avanços. Pergunto então: esses produtos são taxados ou isentos de impostos?
ResponderExcluirCélia, na verdade o que existe por parte do governo federal, é um programa de financiamento pelo Banco do Brasil com juros mais baixos que os praticados pelo mercado, para aquisição desses equipamentos para pessoas com deficiência.
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